terça-feira, 3 de abril de 2018

my maT.ch


Tenho te encontrado nos versos de Fernando Pessoa, Vinicius de Moraes e Drummond.
Nas poesias da Bukowski, nos quadrinhos de Millôr e Quino e nos livros de Capez, Celso Antônio e Jorge Amado.

Te vejo, atualmente, na história do Brasil, nos poemas mais boêmios e nas poesias mais
clichês; astuciosamente, está você também em todas as equações das quais eu faço uso diariamente em meu trabalho.

Me rendi. Não sou páreo para este teu jeito enigmático, o qual constantemente me anseia em
desvendar. Este teu rosto grudado nas mocinhas dos meus dramas e romances clichês de
sessão da tarde, e este teu sorriso incorporado nas personagens sem sal dos romances que eu, diariamente, adoro ver.

Meu palmeiras, minha MPB, meu filme “Notting Hill”, tua imagem incrustada em cada um dos minúsculos detalhes do meu dia a dia. Meu caminho pro trabalho, meu caminho até minha casa e meu percurso pra qualquer dos cantos entre o norte e o sul desta cidade nem tão pequena...

Coração pulsando intensamente, imensamente, não só batendo 70 vezes por minuto, sempre mais, sempre bem mais. Pulsando de rasgar esse peito meu, me lembrando este sorriso tal que é o teu. Agora berrando, é ansiedade, é esperança. Pulsando. Sede de paixão, receio de exercê-la.

Fracasso em ficar bem sem. Fracasso em ficar bem com.

Neura, ansiedade.
Angústia e pessimismo.
Saudade até antes de dormir. Mas saudade de quê?
Espera.
Espera do verbo esperar, enquanto houver chances.
Espera...
Espera do verbo esperançar, enquanto houver esperanças.
Amor?

Medo de solidão. Necessidade de nunca parar a cabeça pra pensar, nunca ter a chance de estar sozinho comigo.

Sempre buscando alguém? Não... Sempre fugindo de mim...

E qual o jeito, quando não se parece ter jeito?

Paro. Inanimado que é o travesseiro, predileto meu, me olha. Sabe que nessa história não
o pessimismo alavanca a probabilidade do fracasso.

Não, é que não tem jeito.

Porque eu quero você. E porque você não me quer. E é que algo em mim, uma pretensão involuntária, me impulsiona a tentar.

 Sigo, não obstante, buscando sobreviver a essa paixão que só aumenta em função dos obstáculos que se lhe opõem.



quinta-feira, 22 de junho de 2017

NOS LIBERTEM!

Penso no Brasil.Penso nas pessoas. Na colonização. Na libertação. Na liberdade. Na libertinagem. No sistema.
No sistema que liberta. O mesmo que prende.
Mas prende onde? Em penitenciárias? Nas ruas? Ou nas escolas?
Esse padrão que nos instrui pseudovalores existenciais sobre objetivos e conquistas.
Hoje estive preso dentro de um carro, em meio a ruas e avenidas, preso entre carros, entre buscas incessantes de ascensão social. 
Me vi parado nesse trânsito desde o colégio. Ouvindo, escrevendo e lendo de forma hierarquicamente arquitetada e pautada por deveres e obrigações. Sempre instruído a me padronizar em algo que me libertaria em um futuro remoto. 
Voltei. Parado ali, naquela fila atrás de um semáforo me deparei com a verdadeira liberdade. Aquela por trás da fórmula escravagista em que vivemos.
Sim, a ironia dessa cena me alertou sobre a forma sádica em que pautamos nossa existência.
Senti vontade de ali estar, ao lado dele, me libertando em meio ao presídio de segurança máxima que é a nossa sociedade.
Um dia poderemos sonhar juntos, carismático senhor desconhecido. E que possamos! 

quinta-feira, 26 de junho de 2014

Francisco Prestes Maia, e sua maldição sobre a cidade de São Paulo

Em tempos de embates ideológicos sobre a urbanização da cidade de São Paulo, profissionais como Francisco Saturino de Brito, engenheiro sanitarista, que em 1920 presidia a comissão de melhoramentos do rio tietê, propunham soluções a longo prazo, prezando por uma urbanização mais correta, estruturada pelos cursos d'água. Este, citado aqui, propunha o resgaste, que até então ainda era possível de ser feito, da orla fluvial urbana do principal logradouro público da "futura metrópole". Presava, em seu argumento, garantir a integridade do leito maior do rio tietê.
Toda confluência de rio, aqui na metrópole de São Paulo, seria formada como um lago, como hoje em dia vemos no Ibirapuera, que seria o núcleo aquático da formação de um cinturão de parque, com bosques. Uma visão muito sofisticada para a época, citada até hoje por profissionais da área.

Do outro lado, tivemos técnicos como Francisco Prestes Maia, que em seu embate ao Francisco Saturino, traçou um plano de avenidas para o estado de São Paulo. Francisco Prestes Maia e Ulhoa Cintra falaram o que os empreendedores queriam ouvir, que era justificar o desenvolvimento da cidade de São Paulo, através de um plano radial concêntrico.

Cidades como Moscou, Paris, Viena também têm o sistema radial concêntrico, mas Prestes Maia, em seu imediatismo ambicioso, "sonegou" a informação que, dentre as cidades mais desenvolvidas com tal sistema, estas já tinham os anéis ferroviário e hidroviário construídos em seus entornos.



É impossível pensar que uma cidade, que já começou com o planejamento urbano sendo feito de forma errônea, pulando etapas a fim de cumprir com objetivos mercantilistas imediatistas, possa hoje pensar em melhorias, principalmente de locomoção urbana, a curto prazo.

Nosso desenvolvimento urbano, por essência, foi voltado ao mercado automobilístico. O negócio era e continua sendo vender carros!



O carro em São Paulo é carregado de uma carga simbólica, porque houve até os anos 20, no fim da república velha, uma confusão entre o automóvel e a identidade da cidade. Ele se transformara em uma peça chave para um discurso de modernização, não progressista, mas conservadora, que propunha transformar São Paulo numa Chicago da América do Sul, tomada por arranha-céus, auto-pistas, automóveis espalhados por todo lugar.

Foi em 1938, com a eleição de Prestes Maia para prefeito de São Paulo, que as obras de seu plano começaram a ser executadas, e os rios perderam ainda mais espaço, já que àquela altura valeria muito mais à pena desocupar uma área teoricamente vazia, que garantiria baixos custos com desapropriações e a valorização dos entornos das obras seria certa.

O plano de avenidas inaugurou uma prática que se estabeleceu/estabelece como modelo na estruturação da cidade, onde o espaço das águas se transformou no espaço dos carros.

São Paulo mudou o rio ao seu modo, o colocou dentro de um cano e escorreu para debaixo da terra. Mas isso não mudou a natureza do rio. Quando a chuva cai, é pra lá que a água vai e, se não tiver espaço, ela toma o que for necessário.




Hoje somos reféns de uma administração pública cheia de dívidas, refém de empreiteiros e desse urbanismo rodoviarista, que faz com que continuemos seguindo pela lógica ultrapassada de abrir mais estradas, mais avenidas e menos meios de locomoção viáveis para uma cidade com mais de 11 milhões de habitantes.

A fragilidade institucional do Brasil leva a uma proeminência do privado sobre o público. Se existe uma área pública, entregue-a ao setor privado, deixe a especulação imobiliária ganhar mais espaço e a cidade ter cada vez menos. Se existe a possibilidade de designar verba pública para a construção de transportes metroviários, esta logo se dilui e perde espaço para que grandes empreiteiras continuem alargando e/ou construindo mais avenidas.

Transportes hidroviários são inimagináveis?

Enquanto mantivermos essa tendência de preferir o transporte individual, continuarmos abduzidos por um urbanismo rodoviarista, lidaremos diariamente com a eterna luta do "ir e vir ao pé da letra".

*Indico a leitura de artigos do professor Alexandre Delijaicov, sobre o conceito de cidades e metrópolis fluviais*

terça-feira, 24 de junho de 2014

Moradia, quem precisa?


Muito se fala sobre o "não dar o peixe, e sim ensinar a pescar". Me soa traiçoeiro e egoísta tal argumento, tendo em vista a clara divergência de importância, designada a cada cargo profissional dentre os que temos hoje em nossa sociedade. Que tipo de peixe um lixeiro conseguirá pescar, com uma vara de bambu, se um grande empresário, ou qualquer outro profissional que faça parte da elite financeira de nossa sociedade, tem milhares de varas de ultima geração a seu dispor? Parafraseei aqui, com o intuito de questionar a viabilidade de introduzir a falsa meritocracia, a um assunto que, quando paramos para pensar em argumentos, de mérito nada se pode tirar. 


Aliás, mérito tem um cidadão que, por saber a distância entre um salário mínimo, e um imóvel, entende a discrepância absurda e, completando... A impossibilidade de se ser medida (diz-se irrisória).









O que vemos hoje, principalmente em São Paulo, são espaços inutilizados e enormes, que tendem a cair em más mãos. São mãos essas, as que constroem imóveis, mas não imóveis para quem precisa. São moradias para quem TEM, para quem INVESTE, para quem compra 2,3,4 apartamentos de uma só vez, e não para quem não tem sequer 20 m² para dormir depois de um dia de trabalho.





São versões que visam não o atendimento à plataforma da demanda necessitada, mas uma espécie de panes et circense que aufere lucratividade à bolsos que nada demandam a não ser o lucro dos juros compostos, oriundos de um patrimônio imobilizado que imobiliza tanto a democracia, como o desenvolvimento, não imobiliza a corrupção e a ganância exacerbada de quem TEM e quer, a qualquer custo, TER mais, e mais.


A bolha que seguirá, caso continuemos a passos largos nesse tipo de política, romperá não pela inadimplência de que necessita, mas pelo excesso de confiabilidade de quem corrupta-mente mente em prol de votos, vetos e pseudovalores existenciais, corrupção ativa e aditivada. Logo este país colherá os frutos podres de tanta ausência de civilidade democrática e justiça social.

Moradia para quem?